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Nova política da Petrobras pressiona estatal por reajuste
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Importadores apontam encolhimento do mercado e ‘preocupação’ com a oferta de combustíveis para o mês de agosto. Petrobras nega o possível risco de desabastecimento.
- Por Camilla Ribeiro
- 29/07/2023 17h05 - Atualizado há 1 ano
Após uma mudança na política da Petrobras, os preços dos combustíveis no mercado externo descolaram dos valores praticados pela estatal e começaram a testar a nova estratégia da Petrobras.
Até o mês de maio, a Petrobras adotava a política de paridade de importação (PPI).
Essa política equipara os valores praticados nas refinarias brasileiras aos de importação.
O valor do combustível quando chega aos portos do Brasil incluindo custos com frete e seguros.
Essa política foi adotada pela Petrobras por 6 anos, porém em maio decidiu adotar uma nova estratégia com preços abaixo do PPI.
Após o primeiro mês de mudança na estratégia, os valores praticados pela Petrobras ficaram muito distantes da importação mantendo-se cerca de 5% abaixo da paridade.
Nas últimas semanas, o valor da gasolina que é vendida pela estatal está pelo menos 10% abaixo do preço praticado pelos importadores.
Segundo dados da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), na sexta-feira (28), a gasolina estava 24% abaixo do preço praticado pelos importadores, o equivalente a cerca de R$ 0,77 por litro.
Já o óleo diesel estava 21% mais baixo do preço praticado pelo mercado externo, ou R$ 0,78 por litro.
Por que houve o 'descolamento' de preços do mercado interno?
A Petrobras anunciou a última redução no preço da gasolina em 30 de junho, quando o combustível passou a custar em média R$ 2,52 por litro nas refinarias da estatal.
Durante esse período, o preço do petróleo subiu e o dólar caiu.
Apesar dos dois fatores afetarem o preço de importação diretamente, eles não justificariam o grau de diferença entre o preço praticado pela Petrobras e a importação.
De acordo com o sócio da Leggio Consultoria, Marcus D’Elia, a diferença de preço da gasolina pode ser causada pela valorização do combustível nos Estados Unidos, de onde vem a maior parte da gasolina importada pelo Brasil.
Com o aumento na demanda local, nos Estados Unidos, o valor da gasolina subiu e o combustível ficou mais caro para os importadores.
Esse aumento, consequentemente, elevou a diferença com os valores praticados pela Petrobras.
Segundo o presidente da Abicom, Sergio Araujo, “o que está acontecendo é que está existindo uma valorização das commodities no mercado internacional e a Petrobras não está acompanhando”.
Essa diferença de preços é um 'teste' para a nova política da Petrobras
De acordo com D'Elia, a diferença nos preços é um teste para a nova política da Petrobras.
O momento agora é de observar se a estatal vai subir o preço para manter os combustíveis no patamar de cerca de 5% abaixo do PPI.
“Temos que esperar um pouco para ver se esse valor de 10% ainda vai se manter com a Petrobras. Aí sim vamos ver como está a política de preços da Petrobras, se reagir e subir um pouquinho o preço, vai voltar para aquele patamar de 5% que temos acompanhado na Petrobras”, disse D’Elia.
A Petrobras continua sendo a maior fornecedora de combustíveis do Brasil, com custo de produção local.
No entanto, a diferença não deve afetar as contas da estatal, mas afeta a atividade de importação.
Cerca de 12% da gasolina e 25% do diesel consumidos no Brasil são importados, a Petrobras não pode praticar preços muito abaixo do mercado internacional, sob o risco de inviabilizar a importação e prejudicar o abastecimento nacional.